A construção da independência do Brasil não é algo que foi iniciado no grito do Ipiranga, nem tampouco se encerrou em 7 de setembro de 1822. Não há no mundo um processo de independência que se dê sem vários e vários anos de pequenos acontecimentos.
No caso brasileiro, quando falamos da participação da maçonaria e dos maçons no processo de independência brasileira, é comum lembrarem de José Bonifácio ou de Gonçalves Ledo. O que poucos conhecem é o fato e que estes atores mais conhecidos, sequer tinham o mesmo posicionamento sobre como seria construída esta independência.
O que eles a maior parte dos maçons no país concordavam, é que a independência era necessária e urgente.
No processo construtivo desta peça, discorreremos como foi esta relação entre a maçonaria e o futuro imperador do Brasil.
Aliás, há grande relevância entre o decorrer deste processo e os resultados embates entre os dois mais conhecidos ícones deste momento da história do país e da maçonaria do brasileira de 1822.
Fruto desta acaloradas discussões, forma cruciais nas decisões de D. Pedro I e sua relação com a maçonaria.
Não nos prenderemos aos pontos de discussão de historiadores da maçonaria sobre a origem da ordem, mas da sua chegada às terras Tupiniquins de Pindorama.
O que sabemos é que a ordem maçônica como conhecemos atualmente, é regida por um conjunto de normas, compilada pelos pastores protestantes James Anderson e Jean Théophile Desaguliers em 1717 e promulgada em 1723 a todos os maçons como a Constituição Maçônica ou Constituição de Anderson. Estes são o embrião da maçonaria que conhecemos hoje.
Devido à proximidade entre Portugal e os demais países da Europa, e a esta ordenação particular e jurídica para o funcionamento da ordem, foram dadas as condições para que a organização se difundisse pelo velho mundo, acompanhado pelos ideais do iluminismo.
Não há registros precisos de quando iniciou-se por terras brasileiras, o primeiro maçom. Sequer há precisão do quando a ordem teve seu primeiro representante pisando em solos brasileiros.
Apesar de muitos informarem que o próprio Tiradentes era membro da maçonaria, não há elementos historiográficos que comprovem a indissolubilidade desta afirmação. E mesmo com os ideais libertários da inconfidência mineira, intimamente ligados aos princípios maçônicos, isto não crava a ligação entre a ordem maçônica e o dito mártir da inconfidência.
Porém, nos primeiros anos do século 19, surgem as primeira lojas maçônicas e em 1817, no pernambuco, o vinculo das lojas locais com a revolução pernambucana, que visava separar pernambuco do julgo da coroa portuguesa, gerou a ação direta do Rei.
Aí temos a primeira ruptura e o momento em que Dom João VI em função do envolvimento da maçonaria, decide por decreto real, tornar ilegal toda a ação da maçonaria em terras brasileiras.
Neste momento, o processo de construção da independência está já em curso com estes eventos históricos.
Em 1820, este movimento de nacionalismo e pertencimento reunirá os maçons em três lojas no Rio de Janeiro: Commercio e Artes, União e Tranquilidade e Esperança de Niterói. Estas lojas eram do Grande Oriente Brasílico, e suas discussões envolviam as questões da relação entre o Brasil e Portugal.
De acordo com o Ir.’. Márcio Maciel Bandeira, membro da Loja Maçônica de Estudos e Pesquisas Renascença n° 1, filiada à Grande Loja do Rio Grande do Sul. Em peça sobre a relação entre a maçonaria e a série de acontecimentos que levaram à declaração de independência do então Príncipe regente Dom Pedro.
“O brado de 1822, do príncipe D. Pedro, está enraizado no imaginário popular como mito fundador da nação brasileira, com o qual teria cortado o cordão umbilical que nos ligava a metrópole europeia, Portugal. A crença nesta ruptura abrupta do sistema colonial, e que este ato de rebeldia do príncipe atendia aos anseios da população brasileira, peca ao deixar de analisar vários elementos da política externa e interna, que vão desde ventos eufóricos da Revolução Francesa e seus ideais, mesmo que seja pelos canhões de Napoleão Bonaparte, passa pelo recrudescimento por partes dos portugueses sediados na Europa a partir da revolta do Porto, e chega até e a um sentimento lusofóbico por parte de camada da população brasileira.”
A verdade é que houve vários movimentos separatistas e nenhum ganhou verdadeiramente força para impedir que fosse vencido nas esferas política, social e econômica. Porém, as nações europeias tinham também várias novas colônias na áfrica, com isso dependendo menos da cana de açúcar do Brasil.
O que temos então é que a construção do processo de independência, do ponto de vista da gestão governamental, mas como fruto de uma dependência econômica da antiga colônia.
Visto esta ser uma outra relação de dependência, guardemos para quando formos fazer a correlação com os dias atuais.
Já naquela época, a relação econômica e sua interferência na qualidade de vida da sociedade, tiveram papel crucial para que os primeiros passos da separação do país, o que não lhe permitiu ainda a categoria de nação, já que o processo de pertencimento e identidade cultural como mesmo povo, estava em seu estágio embrionário.
Não esquecendo de que o que ocorria em Portugal, ainda refletia não só na economia, mas principalmente na política do Brasil. Consequentemente, A Revolução do Porto ou Revolução Liberal, exigia o retorno do rei e sua corte para Lisboa e naqueles dias de 1820, que calcava suas bases em uma nova constituição que seguia os caminhos das monarquias pós napoleônicas, acabando com o absolutismo.
Para não desobedecer ao parlamento e à burguesia portuguesa, Dom João VI teve que voltar para Portugal, mas ao contrário do que Lisboa pretendia, não devolveu o Brasil à condição de colônia, mantendo-nos como parte integrante do reino.
Depois, quando a burguesia portuguesa nota que o rei não havia retornado com seu filho, mas sim deixado-o no Brasil, local em que ele habitava desde seus 9 anos, começou a exigir a saída do Brasil da condição de parte do reino e do retorno do príncipe regente Dom Pedro.
Já sob influência de José Bonifácio, em 9 de janeiro de 1822, Dom Pedro, com apoio de alguns maçons, dentre eles, José Bonifácio e Gonçalves Ledo, o príncipe regente anunciou aos emissários da corte, que não aceitaria retornar a Portugal e que ficaria em terras brasileiras. Este dia, ficou conhecido como “dia do fico” e foi o início da edificação do que ocorreria no dia 07 de setembro daquele ano.
Tão relevante é a maçonaria para o processo de declaração da independência, que há relatos de que, a aclamação de Dom Pedro I como Grão-Mestre da maçonaria brasileira, na Sessão presidida por Ledo em 04 de outubro de 1822, foi vista por José Bonifácio como um Golpe Maçônico, o que teria gerado animosidade entre os grupos da Maçonaria vermelha (republicana constitucionalista) e da Maçonaria azul (monarquista constitucionalista).
Somente então como Grão-Mestre, Dom Pedro pode controlar estes grupos e 17 dias após chegar ao cargo máximo da ordem, determinou a interrupção das atividades maçônicas no Brasil.
Seu texto, direcionado a Gonçalves Ledo, dizia: "Meu Ledo. Convindo fazer certas averiguações, tanto públicas como particulares, na Maçonaria. Mando: primo como Imperador, segundo como Grão-Mestre, que os trabalhos Maçônicos se suspendam até segunda ordem minha. É o que tenho a participar-vos; agora resta-me reiterar os meus protestos como Irmão – Pedro Guatimozim Grão-Mestre. P.S. Hoje mesmo deve ter execução e espero que dure pouco tempo a suspensão, porque em breve conseguiremos o fim que deve resultar das averiguações".
E assim foi, visto que, em 25 de outubro, 50 dias aós determinar a suspensão das atividades maçônicas; já tendo declarado a independência do país frente ao governo português, revogou a suspensão das atividades maçônicas por chegar ao fim de suas averiguações.
E foi neste intervalo, entre tornar-se Grão-Mestre e 25 de outubro, que após o dia 7 de setembro, que Dom Pedro I, agora sob o título de Imperador e defensor perpétuo do Brasil, conseguiu eliminar as resistências na sociedade civil.
Estava já construída a independência do país e de seu povo? Obviamente que não. Como vimos, ma maçonaria havia a divisão de monarquistas e republicanos; dividida em maçonaria azul e vermelha respectivamente. Os comerciantes e fazendeiros ainda não estavam certos de qual caminho seguir, e como muitos eram maçons, inclusive no clérigo.
Temos a importante figura de Padre Diogo Antônio Feijó, ou simplesmente Padre Feijó. Em Itu, o Padre Feijó ingressou no movimento separatista, lá ele fazia oposição ao predomínio dos Andradas na política paulista.
Em 1821 foi para Lisboa, pois seria regida a nova Constituição do País, como deputado por seu Estado natal, tinha o direito de participar da constituinte, já que o Brasil não era colônia, mas parte do reino.
Claro que lá a recepção não foi das melhores, já que na visão dos portugueses, os brasileiros deveriam apenas assinar a nova carta e concordar com tudo que lá estivesse. Depois de três meses de sessões na Corte de Lisboa, e de defender a independência do Brasil, Diogo Feijó pede a palavra.
Isto soava como um ultraje e para os portugueses, que ficaram estarrecidos e ouviram um padre pronunciar um discurso em defesa dos interesses brasileiros, o que ocorreu depois foi um intenso movimento de perseguição aos deputados do Brasil.
Próximo da aprovação da Constituição, os sete deputados brasileiros tiveram que fugir para a Inglaterra e de onde regressaram ao Brasil.
Somente no dia 21 de dezembro de 1822, Feijó desembarca no Recife, e apenas aí toma ciência da proclamação da independência do Brasil no dia 7 de setembro.